"A criatividade humana continua sendo a chave para o sucesso da Lego"

Vicent Plane, diretor da empresa dinamarquesa de brinquedos na Espanha e em Portugal, explica como o grupo está se adaptando às novas tecnologias.

Com 93 anos de história, o Grupo Lego conseguiu se adaptar a muitas gerações de crianças e adultos que, ao longo desse tempo, construíram todos os tipos de brinquedos com os bloquinhos da renomada empresa dinamarquesa. Mas, nos últimos anos, com o avanço da inteligência artificial e uma maior preocupação com a sustentabilidade, a empresa de brinquedos teve que mudar os fundamentos de sua estratégia.

" A chave do nosso negócio atual baseia-se em três pilares: inovação, digitalização e sustentabilidade ", explica Vincent Plane, diretor da Lego na Península Ibérica.

Em relação à inovação, a Lego conta com "mais de 600 designers dedicados à criação e ao desenvolvimento de produtos . O ritmo de renovação é extremamente alto, com metade dos nossos produtos sendo renovados a cada ano. Este ano, lançamos 375 novos produtos, o que é incrível", explica Plane.

Com esse ritmo de lançamentos, usar inteligência artificial generativa para ajudar seus criadores a desenvolver novos jogos poderia ser uma opção interessante, mas Plane insiste que a Lego é uma empresa familiar com forte foco em inovação, porém "o elemento humano é fundamental, continua sendo o mais importante", afirma o executivo, acrescentando: "Em termos de criatividade, confiamos mais em todos os nossos designers e, ao mesmo tempo, utilizamos tecnologias como inteligência artificial, principalmente para análise de dados, aprimoramento de nossos processos e na cadeia de suprimentos."

Um exemplo fundamental desse compromisso tecnológico é o anúncio da inauguração, em 2027, de um centro de inovação na Dinamarca, onde trabalharão 1.700 pessoas e cujo principal objetivo será "pensar em como serão as formas de jogar no futuro, fomentando novas ideias e garantindo que o jogo permaneça relevante".

Relacionada a essa preocupação com o futuro das brincadeiras e como parte de seu compromisso com a digitalização, a empresa enfatiza que, sem se afastar muito do tradicional tijolo usado para construir seus conjuntos, vem introduzindo novas experiências . "Estamos cientes de que os gostos das pessoas têm mudado e a tecnologia é uma parte importante para os usuários", afirma o gerente da Lego na Península Ibérica.

Portanto, jogos como o conjunto Super Mario Kart incluem códigos QR para corridas interativas, assim como os novos trens da linha Duplo, com a possibilidade de integrar voz para enriquecer a experiência.

A empresa também optou por abrir lojas com foco no digital. Na maioria das unidades, os clientes podem usar telas interativas para visualizar um modelo virtual de como o conjunto montado ficará. Além disso, os clientes podem trazer seus próprios desenhos ou obras de arte, e uma digitalização será usada para criar um conjunto personalizado com as peças exatas necessárias. "A ideia é que nossos clientes tenham uma experiência imersiva", acrescenta.

Em relação à sustentabilidade, a empresa aumentou seus investimentos nessa área em 64% no último ano , demonstrando claramente seu compromisso. "Testamos mais de 600 materiais para atingir nossa meta de utilizar componentes mais sustentáveis ​​até 2032. Atualmente, alguns acessórios da linha Botanical são feitos de cana-de-açúcar e alguns pneus são feitos de redes de pesca recicladas e óleo usado", explica o executivo.

O objetivo é reduzir as emissões em 37% entre 2019 e 2032, com a ambição de alcançar a neutralidade de carbono em toda a empresa até 2050. Como parte desse objetivo, a empresa também inaugurou recentemente uma fábrica no Vietnã que pretende operar inteiramente com energia limpa até 2026.

Atualmente, a empresa possui nove lojas na Espanha , a mais recente inaugurada em agosto passado em Bilbao, e, segundo o gerente da empresa no país, não descartam a abertura de mais lojas, mas dentro de uma estratégia de crescimento "muito controlada".

Segundo o executivo, a Espanha tornou-se uma região chave para a empresa devido ao seu significativo potencial de crescimento. "Nos últimos quatro anos, temos intensificado nossos investimentos com o objetivo de acelerar as vendas, e isso tem funcionado. Há um enorme potencial no mercado espanhol. Atualmente , detemos 13,5% do mercado e, somente neste ano, crescemos 2,2% em um segmento bastante competitivo . No entanto, somos comparáveis ​​a alguns países europeus, inclusive Portugal, onde a Lego possui um mercado mais desenvolvido, e ainda há muito espaço para crescimento."